sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O AMOR É UMA COMPANHIA

Sou profundamente apaixonada pelo Fernando Pessoa e todos os seus heterónimos.
Depois de ler "O Guardador de Rebanhos" de Alberto Caeiro, nunca mais me pude desprender dele. Pelo "objectivismo absoluto" com que tudo é tratado e a mágnifica simplicidade de ver as coisas e de as descrever.

"O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum."

Mas depois de descobrir "O Pastor Amoroso", mais arrebatada fiquei. Como é que se pode fazer poesia com tamanha simplicidade e graciosidade?!



O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma cousa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a nao vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas,
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


- Alberto Caeiro em O Pastor Amoroso -


Nenhum comentário: