terça-feira, 27 de janeiro de 2009

PROBLEMAS DE CONSCIÊNCIA?


Sentei-a na minha cadeira, naquela onde habitualmente me sento. Eu sentei-me em frente, na cadeira onde habitualmente se sentam os outros. Por vezes é mais fácil dialogar se trocarmos de posições, se nos retirarmos do papel pré-concebido, se pusermos de lado as formalidades ou até se tentarmos vestir a pele do outro. Claro que tem de haver o factor pessoal, uma certa intimidade, pois é muito mais difícil agir assim com alguém que nos é estranho.

Depois deixei-a falar como se de um desabafo se tratasse, como se abrisse uma porta para poder empurrar para fora tudo o que estava lá dentro desnecessáriamente a encher, a minar. Como quando limpamos o disco, eleminamos o lixo e comprimimos os ficheiros antigos, a fim de libertarmos espaço para coisas novas e um melhor desempenho.

Disse-me, a chorar, que tem a auto-estima de rastos, que caminha de joelhos e sente que não será capaz de se levantar. Que a sua vida está um caos. Não tem vontade de continuar a trabalhar apesar de ter de o fazer. Não consegue realizar as tarefas de casa, nem dar assistência aos filhos e ao marido. Que chora várias vezes por dia e tem de tomar comprimidos para dormir.

Tudo começou quando a acusaram de negligência e incompetência. E, analisando, concluiu que, de facto, talvez tivessem razão. Foi aí que começou a sua guerra com a consciência. A interiorização do eu fracassado, do eu incapaz, do eu burro. Quando se põe em causa o seu próprio eu. Quando o eu se observa de fora para dentro e não se reconhece, porque não consegue ver mais do que um eu mínimo, pequenino: o que sobra é um único eu completamente humilhado! Cai-se assim, numa depressão!

"O que me dói, o que não posso aceitar, é verificar que me acusam, mas com razão. Humilha-me, pesa-me a consciência e custa-me a viver com isso." - É aqui que percebo que ela parte de uma premissa errada! Se a acusam, mas com razão, só tem é que aceitar e tentar remediar a situação. Claro que é dificíl e por vezes se torna quase insuportável reconhecer os nossos próprios erros, mas é assim que, também, se aprende a fazer melhor.

- Tens razão, mas o problema é a minha consciência que me pesa demasiado - Disse-me.
- Supõe tu que te acusavam, sem razão alguma. Ficarias melhor? - Perguntei-lhe.
- Claro, tinha a minha consciência tranquila. - Respondeu-me.
- E se, apenas tu e só tu conhecessem a tranquilidade da tua consciência? Todo o mundo à tua volta, todos os outros te têm como culpada, ainda assim te sentirias melhor do que agora?- Voltei a perguntar.

Aqui ela hesitou antes de responder.

A questão é esta: Sofre mais aquele que é justamente acusado, tem consciência disso, mas custa-lhe a aceitar que errou e que vai ter de pagar por isso ou aquele que é injustamente acusado, sabe que não errou mas ninguém mais o sabe e vai ter de pagar por algo que não fez, como se efectivamente o tivesse feito? A consciência tranquila pode minorar o seu sofrimento até que ponto?

Dou o exemplo de dois individos, cada um acusado de ter cometido um crime. Um é culpado o outro é inocente, mas ambos são julgados e condenados. Qual deles sofrerá mais: o que tem a consciência pesada ou o que tem a consciência tranquila?

A nossa consciência é muito importante, ela chega a comandar-nos e a manipular-nos. É bastante importante, também, que a usemos com rédea e positivamente.
Se erramos desta vez, da próxima já não (aí sim, seriamos incompetentes) - é isto que a nossa consciência tem de nos dizer.

- ... por isso, vamos lá a levantar o cú da minha cadeira e toca a trabalhar para melhorar e recompor o que ainda é possível recompor...



UM ABRAÇO À MINHA AMIGA


Nenhum comentário: