segunda-feira, 24 de maio de 2010

DA IMPOSSIBILIDADE DO AMOR


A vida é injusta. E o amor é fodido, é uma espécice de arma biológica e química - porque interfere com o corpo, roubando-nos o sono, o apetite, a alegria e, porque, bem sabemos, que sem atracção/química não há amor. Devasta-nos. O amor deveria revestir os braços e as mãos que o abraçam, de penas delicadas e graciosas para voarmos alto e longe, não cortar-nos as pernas e os movimentos, limitar-nos a um quarto escuro e solitário. O amor deveria falar-nos poeticamente, em forma de música e não num gemido, em forma de dor.

O meu filho conheceu uma mocinha, da idade dele, no Hi5. Apaixonaram-se. De tempos a tempos ele acabava o romance e a miuda chorava que se fartava e ligava-me de hora a hora, como se eu tivesse o antídoto para as maleitas do amor! Eu! Agora parece que acabou de vez. E ela não vai de modas, como é mais teimosa que a mula do moleiro, ontem meteu-se no combóio, lá para os lados de Coímbra, e apareceu aqui. Mas o raio do rapaz não cedeu! Com um feitiozinho de besta - sai ao pai - teimou em ignorar a choradeira - de partir o coração - e fechou-se em copas. Sobrou para mim, como seria de esperar. Então levei a noite e parte da manhã, a tentar consolar a miuda, a falar com ela - que não me ouvia!
- Dói tanto! - Repetia
- Querida, isso vai passar, a sério, tudo passa. - dizia-lhe eu.
- Mas quando, quando é que passa, quantos dias demora esta dor? - Perguntou-me várias vezes.
Por Zeus! Isso é pergunta que se faça? Pode demorar dias, meses ou anos! Porra, como é que se responde a uma questão destas?
- Vais ver que quando deres por ti, já nem te lembras. Não fiques em casa, sai com as tuas amigas, diverte-te e num flash tudo desaparece. - Respondi.
- Mas como? Quanto tempo? É que eu fecho os olhos, quero dormir e não posso, porque estou sempre a vê-lo! E então só me apetece chorar. Acho que isto não vai passar! Acho que é impossível!- Disse.

Como dizer-lhe que impossível é o amor! A dor é sempre real e certa, já o amor é coisa abstracta e idealizável. Ambos são incontornáveis. Mas isto explica-se a uma miuda de desasseis anos e esperamos que o entenda? Então porque o explicamos? Só por dever de consciência.

- Porque é que ele já não me quer? Ele diz que gosta de mim, mas que não é feliz comigo. - Disse. - Não vou desistir dele, vou andar sempre atrás dele, até o reconquistar. - Acrescentou.
Arre! Ela não vê que ele é homem! Os homens são incompreensíveis. Hoje querem, mas amanhã sabe-se lá! Gostam! Gostam muito, mas nunca estão felizes! Como explicar-lhe que a vida é longa, que tudo se repete e repete e que a primeira vez é sempre a mais difícil? E vai andar atrás dele até se cansar. Pois vai! Isso já eu percebi. Comigo nunca foi assim, um homem saía e eu fechava a porta, dizia-me adeus e eu respondia até sempre. Mas ela não, é teimosa e impertinente! Eu que o diga! Desde há seis meses que vem lá do centro do país e se instala aqui sem querer saber de mais nada senão do amor que persegue para lá do sonho. Xiça! Já me habituei a ela. Tenho um carinho muito grande. Não sei como dizer-lhe que nenhum homem merece o esforço. Que os homens só nos valorizam quando deixam de nos interessar, e nem sempre.

Estou tão triste! Não dormi nada! Falei tanto, disse-lhe tanta coisa, abracei-a tantas vezes, mas não pude consolá-la, tirar-lhe a dor, secar-lhe os olhos e arrancar-lhe um esboço de sorriso. Penso que deveria haver uns comprimidos que nos curassem da maleita do amor. Quando a levei á estação, senti o coração caído aos pés, como se eu própria estivesse a dar um último adeus a um amor morto e nem uma flor tivesse para a despedida.
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O amor é coisa que nos abandona, mas que não se vai embora!
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