quinta-feira, 6 de maio de 2010

PENSAMENTOS DISPERSOS


... e então ele disse-me que é fácil sabermos o quanto amamos. A fórmula é simples: sentimos muito a falta do outro? Eu torci os lábios para a direita, depois para a esquerda... humm!?... Rodei o olhar... quedei-me sem saber o que responder. Pois... Então a questão seguinte é a de sabermos se, ao menos, sentimos a falta do outro. Se a resposta não for pronta terá de ser considerada negativa. Porque o amor não se compadece com dúvidas. Ou sim, ou sopas. E saudades dos momentos que passamos juntos, não são, só por si, sinónimo de amor, mas da falta que se sente do amor abstractamente considerado. "O que tu sentes é falta do amor. Quem ama sente uma angustiosa privação quando o outro lhe falta. É uma coisa no peito... uma coisa tão forte!... - Disse-me com os punhos cerrados contra o peito cheio de ar, a respiração suspensa, e aquele olhar alucinado de quem já partiu na primeira nuvem da lembrança. Sim, eu já soube desse intenso querer que não conhece hesitações, nem permite rodeios.

Eu creio que o importante não é saber o quanto amamos.

Quando amo, acontece de forma tão intensa que, se me ponho a quantificar, terei de acreditar que ficarei sempre a perder, pois os investimentos devem ser vantajosos ou, no mínimo, equilibrados.

O importante é saber que se ama.

E eu não sei nada.

Sei que fui, muitas vezes, o flagrante delírio de um certo afecto. Sei que fui um silencio sem arestas, polido e branco, à espera de um flagrante. Todo o meu ser se despenhou num tempo em que já não sei precisar. Toda a luz se funde um dia e se apaga como se equivoco tivesse sido. É evidente que o amor não é um deserto. Aquece como uma estufa onde todas as sementes germinam e crescem. Porque quanto mais quente, maior é a vida que se lhes promete. Queima. O amor só morre quando arrefece. O amor é quente mas não é um deserto.

Dizia eu que já fui destino, noutro tempo, no tempo antes de ser silencio. Dizia eu que já fui generosa e desarmada, quando tinha um punhado de sonhos descarregados no regaço. - Não eram rosas Senhor, eram narrativas dos desejos que agora são antepassados já mortos. - Fui grito e ferida que cicatrizou. Hoje sou feixe de luz que desliza pelos dias amenos e de marés calmas.

... e eu disse-lhe que ele deveria ter razão. Que o amor não é este sangue aconchegado e livre de registos a correr sem regresso e transcrição do passado. Este sangue navegável. Que o vazio profana-se mas nunca se repete. O que se repete são as valsas.
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Silent all these years - Tori amos


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