quinta-feira, 25 de novembro de 2010

MARAVILHOSA POESIA


Dá-me a tua mão
.
Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua-
para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.
.
Dá-me a tua mão companheira
até o abismo da ternura derradeira.
*
*
*
Cala-te...
.
Cala-te, voz que duvida
e me adormece
a dizer-me que a vida
nunca vale o sonho que se esquece.
.
Cala-te, voz que assevera
e insinua
que a primavera
a pintar-se de lua
nos telhados,
só é bela
quando se inventa
de olhos fechados
nas noites de chuva e de tormenta.
.
Cala-te, sedução
desta voz que me diz
que as flores são imaginação
sem raiz.
.
Cala-te, voz maldita
que me grita
que o sol, a luz e o vento
são apenas o meu pensamento
enlouquecido….
.
(E sem a minha sombra
o chão tem lá sentido!)
.
Mas canta tu, voz desesperada
que me excede.
E ilumina o Nada
Com a minha sede.
*
*
*
Um dia virás,
hora doce e calma
sem as espadas dolorosas
que me sangram a alma
quando cismo...
.
Eu que até nas rosas
procuro um abismo.
*
*
*
Que voz é essa que vem da floresta
e não do meu coração?
Pois os pássaros não cantam apenas
na minha imaginação?
Existem em cor e penas
na realidade desta canção
de mim tão alheia?
.
Ó pássaro autêntico,
volta a ser ideia.
*
*
*
Chove...
.
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
.
Chove...Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
*
*
*
Entrei no café
com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr da imaginação...
.
A seguir,
tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.
.
Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.
.
E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir -
onde só procuro a Beleza
para me iludir dum destino.
.
- Poemas de José Gomes Ferreira -

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