terça-feira, 2 de novembro de 2010

SOMOS PERMEÁVEIS


Ontem, quando o puto regressou a casa eu estava sentada na mesa da cozinha a comer e a ouvir música.
- Que raio de música é essa? - Perguntou. - Nem acredito que estejas a ouvir isso! - Afirmou minutos depois.
- Nem eu acredito! - Respondi-lhe.
- Aliás, se não testemunhasse, nunca acreditaria! - Reafirmou.
- Nem eu! - Disse-lhe num suspiro.
- Que rádio é essa?
- FM Romântica!
- Xiii!!! Mãe, estás doente?
- Não. É para que vejas o que a paixão é capaz de fazer connosco!
- Porra! Não, não... vou-te por heavy metal para recuperares.
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O ser humano é adaptável. Quando nos apaixonamos, coisas que nos parecem impossíveis tornam-se realidades.
Ele gosta de música portuguesa, brasileira e africana. Ele canta e encanta. Ele sabe as letras todas daquelas músicas pirosas e quando as canta para mim, elas tornam-se verdadeiros hinos! Ele ouve a FM Romântica e sintonizou-a no meu rádio. Quando ele se foi embora eu fiquei colada ao rádio a ouvir. Talvez para me sentir mais próxima dele. Para sentir menos a sua falta.
Quando nos apaixonamos começamos a ver e a ouvir doutra forma. Se calhar começamos a usar os sentidos da outra pessoa.
Ele ouviu-me falar nos Arcade Fire e, sem me dizer nada, foi procurar na net, para tomar conhecimento. Eu falei-lhe do "Lustre" do Ed Harcourt e ele agora anda com ele no carro.
Quando nos apaixonamos nós ganhamos sentidos novos e as coisas ganham outros sentidos!
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Nos últimos tempos não tenho ouvido música, a minha música, a música de que gosto. Naturalmente ando a evitá-la. Há qualquer coisa nela ou em mim, que faz doer. A música tem o dom de nos transportar para um tempo ou um lugar ou uma pessoa ou um sentimento ou um estado de alma. A vida sem música é como o meu blog sem espinhos e flores. Mas, por vezes, precisamos de um tempo sem música ou sem aquela música.

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