quarta-feira, 31 de março de 2010

CONVERSAS DA TRETA


Ele tinha a mania de se queixar das gajas, "eram todas umas cabras pois nunca tinha encontrado nenhuma de confiança". Isso porque as três mulheres da vida dele, lhe haviam plantado rosas na testa e os espinhos foram crescendo e foram-lhe ferindo o cérebro no compartimento da honra, consideração e dignidade. Eu ouvia-o pacientemente e dava-lhe conselhos, sempre tendo em conta o devido desconto.
Ele dizia que precisava de encontrar a pessoa certa e que a pessoa certa era uma gaja com quem tivesse afinidades fortes e mostrasse ser de confiança. Isso, porque apesar do massacre dos espinhos, ele ainda acreditava em flores sem os ditos e na possibilidade de limpar o jardim. Eu dizia-lhe que não há pessoas certas, mas pessoas acertadas. Aquelas que se vão acertando e concertando a um estado plural, de partilha e cumplicidade. Também lhe dizia que ninguém pode viver no pressuposto que todos são iguais e que a história se repete ciclicamente.

Ela vivia a queixar-se dos gajos, "não havia um que prestasse, pois eram todos uma cambada de farsantes." Isso porque só tinha tido relações com homens que a trocavam pelo jornal, o sofá, o futebol, o bar da esquina e até a mulher do amigo.
Eu ouvia-a e dizia-lhe que não é bem assim, que até os há que tratam das lides domésticas, são carinhosos, compreensivos, ajudam a cuidar dos filhos, preocupam-se connosco, são companheiros. Mas claro que também tinha de lhe dizer que sabendo que os há, não conhecia nenhum para lhe apresentar. Porém... um dia... quem sabe?

Pois, um dia, estas duas almas juntaram-se. E viveram felizes por uns dias.

Ele andava encantado e sorridente - a limpar o jardim.
Ela andava emocionada e a cantarolar - a sonhar.

Há tempos encontrei-o, sentamo-nos a tomar um café e disse-me que estava apaixonado, que tinha encontrado a pessoa certa. "Ainda bem" - Disse-lhe a pensar que se calhar há mesmo milagres!

Há dias encontrei-a e fomos beber uma imperial. Tinha um ar de felicidade manchado por uma qualquer preocupação.
-Ele um querido. É amoroso, de facto é diferente, faz-me sentir como se vivesse um sonho.- Disse-me.
-Ótimo- Respondi-lhe animada.
Após a segunda imperial e mais umas quantas frases de satisfação, saiu-lhe um "MAS" acompanhado de prolongadas e agudas reticências...
-O que é que foi? - perguntei-lhe.
- Há uma coisa que não me agrada muito, mas não sei o que fazer. - Respondeu.
- O que é? Sabes que nem tudo pode ser perfeito, há sempre qualquer coisa. O que é?
- É o sexo.
- O sexo?!
- Sim. - Baixou os olhos e fez um silêncio.
- Então?! Não me digas que ele... nada? Népia?
- Não é isso. Fáz, só que é tudo muito rápido. Cinco minutos e já está. - Afirmou muito desanimada.
- Cinco minutos! Porra! - Comentei. - Bem, era pior se fossem só dois. Vê a coisa pelo lado positivo. Além disso ele ainda anda nos treinos contigo, quando passar ao jogo, vais ver que até vai haver prolongamento.
-Oh, pá! Não brinques comigo, que o assunto é sério. Estou mesmo desanimada. É que são só mesmo cinco minutos. Uma hora depois volta a repetir os cinco minutos. Cerca de uma outra hora depois, repete...
- Xi!!! Afinal é um atleta, é estafeta. - Disse-lhe sem controlar o riso.
Depois de me ter dado uma cacetada na cabeça acabou por dizer: - Parece um coelho!
Não há como uma pessoa se controlar com uma conversa destas! O melhor foi pedir mais uma imperial para ver se a coisa atingia o grau de seriedade pretendido.
A dada altura ela agarrou-se ao meu braço esquerdo e deitou a cabeça no meu ombro.
- Não sei o que hei-de fazer, ando desconsolada. Aquilo aborrece-me. Não me dá prazer, preciso de mais tempo e menos vezes, percebes? Mas não te rias. Diz-me o que hei-de fazer.
- Sei lá. - Respondi sériamente. - Fala com ele sobre o assunto, se conseguires. Pode ser que as coisas mudem. Deve haver solução.
- Falar com ele sobre isso? Achas? Não posso, é impossível, ia estragar tudo! Dá-me lá um conselho que seja viável, por favor.
Estive um minutito a pensar e, por fim, surgiu-me uma ideia brilhante.
- Olha, na verdade, o que eu te aconselho é a comeres muitas, mas mesmo muitas cenouras. Vais ver que em menos de uma semana as vossas afinidades aumentam e acabará por haver total compatibilidade sexual.

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Viva la vida or death and all friends - Coldplay

Um comentário:

Anônimo disse...

Lá diz o velho ditado "quantidade não é sinónimo de qualidade" mas. "grão a grão enche a galinha o papo". E com tanta galinha a passar fome!...


Lin Xung