terça-feira, 12 de abril de 2011

COISAS DE GAJAS


A distorção das rosas
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As palavras também se emprestam, o amor é que nunca.
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Esta madrugada tocou o telefone, era uma amiga com quem trabalho, e atendi julgando tratar-se disso mesmo, apesar da hora. Mas não era isso! Precisava que eu lhe dissesse o que haveria de responder a uma certa mensagem, pois havia estado  a noite toda acordada, a trocar mensagens com o homem por quem nutre paixão e encantamento.
Estava pedrada de sono, mas tomada por uma exaltação amorosa extraordinária!
Também eu sentia sono, pois tinha estado até às 03H00 a trocar impressões e conhecimentos de música com o meu filho, a procurar e a ouvir músicas que não conhecia e a escrever coisas sem nexo. Restava-me uma branca na cabeça. Total ausência de raciocínio e de um pingo que fosse, de inspiração!
- Ajuda-me, por favor, só tu me podes ajudar. Diz-me o que hei-de escrever. - Suplicou ela. Mas nada me ocorria! Ao invés de pensar numa daquelas frases poéticas a cercar o ridículo, pus-me a analisar a mensagem recepcionada.

Quando duas pessoas andam na troca de mensagens, textos e músicas românticas, há sempre dúvidas quanto ao significado de tudo aquilo ou de cada uma das coisas . Aquelas que estão apaixonadas tendem a ver tudo cor de rosa e vêem flores por todo o lado, até onde nem existem! Já as cépticas, ainda que apaixonadas, duvidam sempre de qualquer intenção amorosa da outra parte e retraiem-se, dando um passo à frente e a seguir um ou dois atrás!

Logo ela me gritou: - Não quero que interpretes nada, para isso estou cá eu, não me lixes! Só quero que me emprestes as palavras. Inspira-te, deita cá para fora,  que eu escrevo.
Isto porque, ela anda sempre a pedir-me frases emprestadas! E depois diz que sou lírica! Que sou um caso perdido! Faz-me colocar no lugar dela, supôr que estou apaixonada por aquele homem, deixar o ardor florir em palavras que ela vai escrevendo para enviar! No final fica toda contente e diz que sou lírica!
Mas há dias pediu-me para lhe fazer uma frase e eu respondi-lhe que estava descrente o que me retirava a inspiração.
- Mau! - Exclamou! - Detesto quando dizes isso! Seguem-se os discursos racionais, os conselhos práticos e o bota-abaixo! Eu adoro é quando estás lírica.

Mas não ando nada lírica! Estou a atravessar uma fase mais racional, deixo o lirismo para os outros. Agora ando em observação e meditação, o que me torna mais comedida e também mais crítica em relação a tudo. E ela irrita-se comigo quando ando assim, pois não tenho tanta piada, nem lhe faço poemas para poder enviar.

Há pouco ela chamou-me, com um ar gravíssimo, para me mostrar a resposta à dita mensagem.
- Estive o dia todo a pensar, quase duas horas para escrever quatro linhas e cerca de meia hora para ter a coragem de carregar no enter! E agora... já não posso fazer nada! Tudo isto por tua causa!
- Mas, que fizes-te tu? - Quis saber.
- Declarei-me pura e friamente, sem qualquer romantismo!
Li o texto, respirei fundo e disse:- Fizes-te o que tinhas de fazer. É assim que tem de ser, temos de ser nós, genuinas.
- E agora? - Perguntou ela
- Agora seja o que deus quiser!- Exclamei com os braços ao alto... e a rir.

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