segunda-feira, 29 de março de 2010

DÁ-ME UMA PALAVRA


As palavras nunca são suficientes.
Ninguém descreve por inteiro, as circunstâncias de um momento feito de memória e saudade, ausência e bem-querer.
Tudo é completamente simples e cabe num soneto. Mas não encontro a receita para o indízível, para o que trespassa o pensamento, o papel e estas mãos vazias de afecto.
Consigo ver a sombra do desejo que nutro por ti. Como um cavalo que sai a correr de dentro de mim e sobe as paredes pela casa solitária, a marcar os cantos manchados de cio.
Somos sós, não somos? Uma solidão antiga, a espigar em cada primavera, para que se renove. Que silêncio tão pesado! Divertimo-nos a criar estes silêncios anémicos e prolongados! Não, que a verdade seja dita, habituamo-nos! Tornei-me crente. Acredito, uma fé inabalável, quase um fanatismo, que este silêncio repetido encerra em si a maior das objectividades. Que a fantasia tem voz, faz eco, estrilho e chega a incomodar. Vivo suspensa entre a fantasia e estes silêncios palpáveis. E sou capaz de estremecer num sopro, de cair ao suspiro da noite.
Dá-me um rumor, uma palavra...
Bem sei que as palavras nunca são suficientes. Haveremos sempre de querer mais e mais e depois os gestos, e depois o tempo e depois a posse, a usurpação, o roubo, a vida inteira! Bem sei, também é assim com o seio materno quando nascemos, apossamo-nos dele como se nos pertencesse.
Dá-me uma palavrita... que caia dentro de mim e ferva, me faça fumegar e sair a correr...

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Infinity - The xx

Um comentário:

MyD. disse...

Belíssimo texto.
Beijo