sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

DESABAFO (NO MAIS CRUEL DO MEU ÍNTIMO)

Por vezes (e quantas!), questionamo-nos sobre a nossa maneira de agir e de ser. O porquê de fazermos isto ou aquilo, de sentirmos isto e não outra coisa.
Precisamos de olhar para o passado para entendermos alguma coisa. A nossa infância contém quase todas as respostas, mas, no meu caso, pelo menos por agora, não quero ir tão longe.
Recuo há dois anos atrás.
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Faz agora dois anos, três meses de divórcio, muita instabilidade emocional e a crença numa vida nova repleta de encantos por viver. Tive um namorado que era muito bom rapaz, sim, confesso, bastante normal. Não fumava, não bebia, era trabalhador, bons príncipios, bons sentimentos, pouco sentido de humor e muito sério. E beijava mal como a merda!
Mas enfim... eu precisava de uma pessoa normal, porque o louco do meu ex-marido, além de me ter moído a paciência apaixonadamente, durante anos, tinha-me trocado por uma abentesma cheia de pneus! E, encontrar um homem cheio de qualidades seria meio caminho andado para um grande amor. Pensava eu!
Além disso, diga-se, tinha um corpo perfeito. Dedicado 100% ao desporto, era escultural.
Um dia ele meteu na cabeça que haveriamos de ter um fim de semana grande e de verdadeiro sonho.
Entusiasmada com a ideia, comecei a procurar roteiros românticos, na esperança de fazer nascer a paixão. Mas ele decidiu seguir um determinado rumo não previsto. Uma cidade como qualquer outra. Um hotel com vistas para o rio. Não fosse o rio e nem vistas haveria nesse desejado fim de semana!
A primeira tarde foi passada no El Corte Inglês. Como eu nunca estado em nenhum (por opção), ele entendeu que eu necessitava de conhecer as maravilhas dum local desses. Horas! Puta que pariu o El Corte Inglês! Na verdade, a única afinidade que tenho com os centros comerciais resume-se aos cinemas e à Fnac. E nem vou dizer mais nada acerca do fim de semana de sonho, pois foi todo ele assim, tudo é sequencial.
No regresso a acasa, durante as horas da viagem, eu permaneci em silêncio. O cérebro trabalhava compulsivamente e dizia-me que tinha sido o derradeiro teste. Estava chumbado, sem sombra de dúvidas!
Não voltei a estar com ele. Acabei tudo por telefone, uma infeliz verdade! Mas não suportava a ideia de um próximo encontro. Sou demasiado sentimentalista, iria compadecer-me e andaria a sofrer para não fazer sofrer. E sou impulsiva o suficiente para decidir num minuto aquilo que me pode custar uma vida inteira.
Durou dois meses e umas semanas. O suficiente para entender que só a paixão vale e exige sacrificios.
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Logo a seguir, no rescaldo, apaixonei-me desesperadamente por alguém que então conheci. E sobre isso nem quero falar, porque, não tenho falado de outra coisa.
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Hoje, tenho um namorado, já lá vão dois meses!
É atencioso, trabalhador, bom rapaz, de sentimentos nobres, cheio de boas maneiras e bons costumes, grandes qualidades, não fuma não bebe, não tem sentido de humor, não sabe divertir-se e, porra, beija mal como a merda!
Há! Mas tem um corpo perfeito! Dedica-se ao desporto. Deita-se cedo para descansar e levanta-se cedo para fazer desporto.
Além disso, adora passeios pelas exposições de arte, monumentos e tudo o que é cultural, detesta convívios e não tem a menor noção do que é uma real paixão (creio Eu).
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Agora vem o Foda-se.
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Mas o que é que se passa comigo?
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Desde já declaro:
Nunca mais terei um namorado que não fume, não beba, não dance, não tenha sentido de humor e não goste de conviver. Que se deite cedo, seja bom rapaz, trabalhador convicto, sério e desportista.
Tiram-me do sério!
Arrasam com a minha personalidade!
Arruinam todas as minhas crenças!
Perco a fé!
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Para que serve um corpo perfeito e escultural? Se tudo aquilo que é importante está para lá da perfeição e da pedra?
De que servem as boas maneiras, sem gargalhadas de cumplicidade maliciosa?
Que faremos do romantismo implicito no disparate, na tolice, no ridiculo e nos excessos de momentos não planeados?
A paixão é exuberante por natureza,
não se compadece com rituais monotonos.
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Se esta relação se mantiver,
se eu resistir e renunciar a tudo aquilo que sempre fui, à minha verdadeira essência,
então, terei aderido a uma banal e monótona normalidade.
E terei enlouquecido de tão normal!
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Sexy motherfucker - Prince

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