terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

ESTA TARDE.

À distância de um cabelo...
Os meus olhos a fitarem os teus
com o espanto e o deslumbramento da primeira vez!
São tantas as palavras que invento
no sufocante silêncio dos meus olhos!
Tantas as palavras que rasgo, no fecho hermértico dos lábios!
Tantos os gestos que aquieto, nas mãos pendentes!
Que farei de mim, amor?
Que farei das cartas sem endereço?
E das promessas que só a mim,
a mim, prometo?
Que farei de tanto desperdício?
De tanto amor sem abrigo?
À distancia de um cabelo...
A falar-te de coisas convexas, mortas e complexas!
E os meus olhos a fitarem os teus,
campos de mal-me-queres,
claros, simples, Transparentes!
São tantas as parábolas com que te fito!
Tão grande o enredo em que te sonho!
Se, ao menos, os teus olhos pudessem ler-me!
E eu pudesse adormecer!
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Momento - Bebel Gilberto

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