segunda-feira, 6 de setembro de 2010

COISAS PARVAS

Foto: Pôr-do-sol transmontano
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A minha amiga diz que nada acontece por acaso e acredita que não há cíncidências. Na verdade a vida é um jogo de acasos onde as coincidências estão sempre a acontecer.
O recinto da festa do avante é enorme e há milhares de pessoas aqui e ali e de um lado para o outro. Existem vários palcos onde actuam os grupos mais conhecidos e cada barraca ou restaurante representativo de uma região tem o seu próprio palco onde, ao longo da noite vão actuando grupos, a maioria deles são populares e bem divertidos. E há sempre um pézinho de dança. A probabilidade de nos cruzarmos com uma pessoa mais do que uma vez é muitissimo reduzida. E é interessante andar a saltitar, pela diversidade de costumes e música.
Na noite de sexta-feira, enquanto eu abanava o corpo ao som de música escocesa, tocada por um grupo de malta no meio de um relavado, notei um rapaz que me olhava fixamente com um sorriso encantador. Mas ali, isso é o prato do dia. O certo é que, por acaso acabei por me cruzar com o mesmo rapaz várias vezes em locais diferentes. E lá estava o mesmo sorriso encantador!
Na noite de sábado, já nem me lembrava do rapaz e do seu sorriso encantador, quando, subitamente esbarrei com os seus dentes branquissimos, brilho pepsodente, entre uns lábios bonitos e rasgados de orelha a orelha. "Perdão" disse eu. Foi sem querer, fui empurrada por meia dúzia de pessoas e pelo destino - pensei. Ele ajeitou os óculos e seguiu por entre a multidão de pescoço voltado para trás, até desaparecer. E não mais tive o privilégio de ver aquele sorriso cintilante, do qual, diga-se, acabei por me esquecer.
O domingo é sempre o dia menos interessante, a noite acaba às 24H00 e depois é o dispersar. Além de que os grupos populares já são poucos e as alternativas são em menor número. Todavia, continua a ser um mar de gente. Já eram umas 23H00, quando passou por mim o rapaz do sorriso encantador. Trocamos um olá apressado e ele foi levado por uma quantidade de pessoas que passavam aos empurrões. Ainda vi a mão dele no ar a acenar-me, mas depois desapareceu. Acabou por voltar uns minutos a seguir. Perguntou se podia falar comigo. Sentamo-nos numa mesa enquanto os meus amigos permaneciam no balcão da tasca, a beberem um copo com os olhos cravados em nós. Depois da formal apresentação disse-me:
- Estava farto de andar às voltas na expectiva de te voltar a encontrar. Já tinha perdido a esperança! É que estou mesmo a ir-me embora, ainda tenho de ir hoje para o Norte. - Blá, blá, blá, isto e aquilo, daqui e dali - Vivo em Lisboa mas trabalho em Castelo Branco às segundas e terças-feiras, para onde sigo agora.
- Ah! Boa terra, boa terra! - Foi o que me ocorreu dizer!
- Mas venho a casa todas as quartas-feiras e também passo cá os fins-de-semana. Posso ligar-te na quarta-feira? - Continuou.
Quando voltei para junto dos outros o meu amigo comentou:
- Eu não acredito que lhe deste o número de telefone!
- Dei. A vida são três dias e hoje pode ser o último deles. Sou livre, disponível e já não tenho nada a perder. Aquele sorriso encantou-me!
- O homem estava babado! Havias de ver o cenário daqui! - Comentou a minha amiga. - Estava!... Que dentes! E que sorriso!
- Que parva! Não percebeste que ele só quer uma coisa: comer-te. Via-se na cara! Além disso é capaz de ser um bocado mais novo do que tu. - Disse o meu amigo.
- Que parvo! Que imbecil que tu me saíste! Olha que tu também és um bocado mais novo do que eu e isso não te incomoda, pois há muito que sonhas comer-me. - Respondi. - O ciúme é uma coisa feia!
- Ao menos a mim já me conheces! - Disse ele num suspiro.
- Pois já! Por isso mesmo! Aquilo que não se conhece ainda se pode sonhar, por isso é sempre mais apetecível. - Conclui. - Possívelmente ele vai-se esquecer de telefonar. Mas como diz a minha amiga (a outra), estas coisas fazem-nos muito bem ao ego! Além de que as coíncidências, por vezes, fascinam-me!
Nisto tocou o meu telefone.
- O filha da mãe não perde tempo! - Pigarreou o meu amigo.

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