terça-feira, 21 de setembro de 2010

A CONVERSAR


Esta manhã uma cliente falou comigo durante cerca de duas horas. Até que tive de, delicadamente, a mandar embora porquanto tinha diversas coisas urgentes para despachar. Ela pediu desculpas por falar tanto e disse-me que é um prazer enorme conversar comigo. Vários clientes me dizem isso e eu fico muito vaidosa, fico cheia de orgulho mas finjo modéstia.

Na verdade, as pessoas têm um défice bastante elevado de diálogo e de convivío. Na verdade, as pessoas não conversam, vão falando. Na verdade, as pessoas vão vivendo umas com as outras no meio de gritos ou de silêncios. Na verdade, as pessoas passam umas pelas outras, trocam os passos e trivialidades. Na verdade, as pessoas caminham pela vida de uma forma individualista e solitária. Na verdade somos assim!

Não gosto muito de falar, por isso não falo muito. Mas gosto muito de conversar, por isso sou conversadora. Conversar é um prazer enorme, de facto. A troca de ideias, de pontos de vista, de vivências e experiências, de ideais e emoções, de expectativas e sentimentos, de conhecimentos e aprendizagens. O acto de falar é, por vezes aborrecido e desgastante. Mas falar também faz falta. E falar com um vizinho ou com o empregado que nos atende do outro lado do balcão, com a colega com quem nos cruzamos, com a amiga que nos liga ou o passageiro que se senta ao nosso lado no combóio, é, muitas vezes, a única forma de sairmos da nossa cela solitária.

As pessoas estão cada vez mais solitárias. Os espaços entre elas vão-se tornando cada vez mais largos, até mesmo entre aquelas que partilham a mesma casa. As pessoas falam muito com a televisão e ainda falam mais com o computador.

Penso que é, sobretudo, o diálogo que prende as pessoas. A conversação é o melhor veículo de conquista. E melhor ainda se for acompanhado com um petisco e um bom vinho. Eu gosto de conversar!
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Where we are - The Dirty Tees (Remistura de Cosmonaut Grechko )

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