domingo, 5 de setembro de 2010

A FESTA CONTINUA

Foto: Pôr-do-sol transmontano
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Os putos ainda dormem. Devem ter vindo para casa já de madrugada. São fascinantes! Estão a viver dias de liberdade e prazer, o que para eles é a felicidade pura. Daqui a pouco ouço o meu filho gritar "Mãe, temos fome, o que é o almoço?" Depois vêm todos desgrenhados, cada qual com os cabelos mais compridos do que o outro, sentam-se á mesa, comem como lobos e dizem centenas de disparates. Eu sento-me com eles e aproveito para ser adolescente por duas horas. Ontem percebi que três deles têm gostos musicais muito semelhantes aos meus. Aproveitei para trocar ideias e pu-los a ouvir Black Keys, Arcade Fire e Ra Ra Riot, que eles não conheciam. Quando pus o "Too afraid to love you" dos Black Keys", um deles mandou calar toda a gente e apaixonou-se de imediato. Acabei a gravar-lhe o cd.

Para mim também estão a ser dias maravilhosos. Comecei com a festa das vindimas em Palmela na noite de quinta-feira. Tenho uma dor de pés que parece que fui a Fátima a pé! A festa do Avante tem sido uma maluqueira! Este ano, melhor do que nunca, tenho andado pelas tascas e palcos do Alentejo, Vila real e Braga, bem como o dos DJ's, alternando com o café Concerto e o auditório do Jazz (das 18H00 às 3H30). Doer, doer, vai ser amanhã, o regresso ao trabalho, no duro! E o regresso a casa, para ficar e por tudo em ordem. Vou aproveitar o último dia e noite da festa mais anti-comunista do país.
...

Aqui fica um poema de que gosto muito:

CANÇÃO DA MAIS ALTA TORRE

Que venha, que venha
O tempo da apanha.

Eu esperei tanto
Que tudo esqueci.
As raivas, o pranto
Acabam-se aqui.
E uma sede langue
Escurece-me o sangue.

Que venha, que venha
O tempo da apanha.

Como o descampado
De flores de abandono
Coberto, deixado
Ao incenso e ao sono,
Para voos atrozes
De moscas ferozes.

Que venha, que venha
O tempo da apanha.

Arthur Rimbaud em Uma Época No Inferno

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