quinta-feira, 30 de setembro de 2010

PEQUENAS COISAS


Sempre apreciei a vida e as pequenas coisas, os pequenos prazeres, as insignificâncias em que só nós reparamos ou só nós sentimos e vivemos. Como as lambidelas do cão quando entro em casa e festeja como se não me visse há um ano! A agradecer-me por eu existir! Que coisa tão espantosa!

Quando obtenho um sucesso ou me sinto bem, vou comprar fruta e legumes para o arrumador de carros da minha rua ou simplesmente lhe dou o pão da manhã ou umas moedas para o tabaco. Só para que ele me continue a cumprimentar todas as manhãs com o seu sorriso de velho.
Quando eu vim morar para este prédio, havia um velho no rés-do-chão que estava sempre a fumar à janela e falava comigo. Na primeira reunião do condomínio eu comentei que sentia falta do velho que fumava à janela, que falava sempre comigo, e não sabia nada dele. E a filha, comovida, disse-me que ele havia morrido fazia três meses! O velho morreu, no meu prédio e eu não soube de nada, apenas da ausência do seu sorriso! Era um pequeno detalhe nos meus dias! Que se perdeu!

Adoro a vida. As pequenas coisas da vida. A vida das pequenas coisas. Como a da osga que ainda há duas horas atrás se passeava no meu corredor. E eu, em pánico, histéricamente gritei, vem aqui, faz alguma coisa, quero dizer, tira esta coisa daqui. E ele, não sejas ridicula, isto não faz mal, só faz comichão, mas está bem, não me peças para a matar. Não, não a mates, disse eu, cuidado, não a mogoes, não lhe partas uma pernita, os bichos não têm médicos, nem tomam medicamentos. Mas não a apróximes de mim! Que horror! Não me faças subir para cima de uma cadeira! Pedi. E o meu filho meteu-a num saco plástico e lá fui eu largar a pequena, junto à minha figueira. Adoro a vida e as pequenas coisas com vida!

Adoro a mensagem que me acorda pela manhã com os seus dizeres deliciosamente ridiculos. Todas as mensagens intermédias, o telefonema do fim da tarde e a mensagem de boa-noite! Adoro o beijos, o perfume que fica nas minhãos depois dos afagos, o cheiro nos lençóis e na almofada, a falta que sinto do lado direito do colchão. Adoro a voz tranquila, as gargalhadas deliciosas, os piropos sussurrados, os olhares que me perseguem até a porta se fechar, o último aceno por detrás do vidro.
O que vês em mim? Perguntei-lhe eu. Alguém que gostaria de ter conhecido há mais tempo. Respondeu ele. A sério- repito- diz lá o que vês em mim. A lua, o mar, a poesia. Tudo o que não conseguia ver antes de ti. Disse-me ele. E eu enterneci-me!
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Ashes to Ashes - Warpaint

A VIDA É INJUSTA


Fui agora mesmo levar uma amiga à estação dos combóios (não, não é a do post abaixo, esta é outra amiga). Vai passar uns dia fora, pois deu entrada com o divórcio e precisa de sair do ambiente familiar, pelo menos até as coisas acalmarem e ele decidir seguir o seu próprio caminho. Pediu-me para ir entregar as chaves da casa e do carro a casa da mãe dela. Assim fiz. Cumprimentei a senhora e perguntei-lhe se estava tudo bem. "Tudo mal"! Respondeu ela. E desatou a chorar. E começou a lamentar-se como se a desgraça lhe tivesse caído em casa! Enquanto isso, a filha partia com um enorme sorriso de felicidade e bem-estar! As mães são assim! E as filhas também! As mães foram educadas para suportarem tudo, para um casamento eterno e, talvez por isso, tenham adquirido estratégias de vida que lhes permitam ser felizes, ou não! Não sei! Ás vezes penso que os casais modernos não se esforçam para tornar o casamento eterno! Talvez precisem de namorar, de se reencontrarem de vez em quando. As filhas chegam a uma altura da vida em que sentem necessidade de recomeçar, de partirem em busca da felicidade. Porque as filhas não encontram estratégias de vida que lhes permitam ser felizes sem um recomeço!

Pessoalmente andei alguns anos a tentar definir estratégias para tornar o meu casamento eterno. Até prometi à minha mãe, nos seus últimos meses de vida, que tudo faria para tentar salvar o meu casamento. Creio que fiz o que pude. Mas reconheço que o casamento se faz a dois, é uma relação cumplice e solidária. E, a maior parte do tempo, é uma ralação!

Quase todos os casais com que me relaciono estão já divorciados ou em processo de divórcio. E os que o não estão não são felizes! A felicidade amorosa existe. E até pode ser duradoura. Sei-o por experiência. O grande problema não é não sabermos como mantê-la, pois todos nós sabemos. O grande problema é querermos mutuamente mantê-la. Pois exige um grande esforço. No início, quando tudo é novidade, paixão e amor, vamos lidando com o outro, tomando conhecimento dele, com alegria e tolerância. Com o passar do tempo, acostumamo-nos ao outro e vamo-nos acomodando a uma certa monotonia e até falta de exaltação amorosa. Surge a decepção. Depois a intolerância. E depois é o que se sabe! É o funeral do amor.

Todos nós sabemos que a única forma de mantermos o amor vivo e de saúde é não nos deixarmos cair na monotonia e na intolerância. Para o efeito é necessário manter o carinho e mimar, alimentarmos o corpo e a alma com muito companheirismo. O que requer respeito mútuo. Só conseguimos respeitar o outro quando aceitamos as diferênças e nos esforçamos para conviver com elas. É terrivelmente dificil, mais do que as aceitar, viver com elas. Felizes são aqueles que o conseguem. Muitos casais separam-se porque pensam que vão encontrar a felicidade com outras pessoas. Porém é certo que tudo acabará de igual forma. A menos que encontrem um par com o qual seja mais fácil o empenho e o esforço de ser feliz.
Penso que os casais deveriam fazer terapia familiar. Acredito na terapia familiar. E adoro a mediação familiar que é bastante identica, mas com outra vertente. Enquanto a terapia familiar visa salvar a relação amorosa com vista a manter os laços, a mediação visa resolver os conflitos existentes aquando da ruptura, com vista a uma separação não conflituosa, possibilitando um relacionamento amigável ou cortês, salvaguardando os interesses de cada um e os da própria família.
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Mouthful of Diamonds - Phantogram

AS MULHERES!!!


Há tempos ela andava muito desanimada e disse-me:
- Precisava de voltar a namorar com o meu marido. Penso que deveriamos voltar à fase de namoro, para nos podermos conhecer.
Olhei para ela, surpreendida e perguntei-lhe:
- Depois de seis anos de namoro e doze de casamento, ainda não se conhecem? Talvez queiras dizer para se reencontrarem.
- Talvez seja isso. - Concordou. - Fiz-lhe a proposta e ele disse-me para não ser tola. Disse-me que as mulheres nunca estão satisfeitas com os homens que têm. Mais, disse-me para fazer como as outras, se estou desanimada, para cuidar mais de mim, para ir ás compras, que ando muito desleixada, que me irei sentir melhor.

Dois meses depois ela estava totalmente diferente. Penteado e pintura novos, unhas de gel. Tinha renovado o guarda fatos, comprado vários pares de sapatos e diversas malas. Mas continuava desanimada!

- O meu marido está zangado comigo porque arruinei a nossa conta bancária. Endividei-nos para ter este ar produzido, para me sentir melhor. Agora diz que eu não sou sensata, que não tenho juízo nenhum! - Comentou comigo.

E ontem acabou por me dizer que anda à procura de casa, que vai deixar o marido.
- Preciso de me descobrir. - Disse ela. - Mas antes deixei-lhe a conta toda a descoberto, comprei mais este telemóvel por € 400,00 e umas quantas coisas mais.
- Tu és lixada! Agora que andas toda bonita e produzida, que lhe arruinaste as finanças, é que o vais deixar! E ainda lhe pedes para ter paciência, que é só até te descobrires?!
- Tem de ser. Ele também tem culpa nisto! Pedi-lhe para namorarmos, chamou-me tola! Fui fazer compras como ele aconselhou, chamou-me insensata! Disse-lhe que o ia deixar para me descobrir, para realmente me conhecer, chamou-me ingrata! E ainda diz que eu estou doida! Não me resta outra solução senão partir! Não concordas?

Concordo perfeitamente, com ambos!
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Up Past The Nursery - The Suuns

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

VILLAGERS - BECOMING A JACKAL

Villagers - Becoming Jackal (2010)
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Para ouvir muuiiiitas vezes.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

COISAS DE GAJA


Ele:
- Anda, vou trocar-te os casquilhos. Dá-me o material.
Eu:
- Não. Agora não. Daqui a pouco tens de te ir embora, não vamos perder tempo com isso. Deixa estar. Eu troco-os. Então não hei-de ser capaz de trocar um casquilho? Macacos me mordam se não sou.
Ele insistiu e eu também. Ontem agarrei no escadote, e desmontei o casquilho. Afinal só tinha de tirar o velho e colocar o novo. Cinco minutos e já estava. Estaria, não fosse o caso de ter tirado todas as pecinhas e parafusos do casquilho novo, as quais, por sinal, depois, foi o cabo dos trabalhos para as voltar a encaixar! Os parafusos e os ferrinhos eram tão pequenos que não encontrava maneira de os voltar a por no sitio! Caíram ao chão vezes sem conta! Doíam-me os braços de estar com eles ao alto a tentar, desesperadamente, meter o que havia a meter no lugar. Levei quase 00H45! Fiquei com os parafusos da cabeça completamente empenados, a quererem saltar! Arre! Que trabalheira! Teria sido mais fácil fazer um bacalhau com natas ou uma feijoada! Xiça! Mas acabei por perceber que, para montar um casquilho, não é necessário desmontá-lo todo primeiro! Afinal, bastam mesmo cinco minutos! Sempre a aprender!
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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

PERCO A FÉ!



Hoje sentei-me com uma amiga a tomar um café. É da minha idade, divorciou-se recentemente e é uma mulher com um tipo de vida sensato, muito atinada, julgo eu.

- Preciso de um conselho teu- - Disse-lhe eu. - Penso que serás a pessoa mais indicada. Blá, blá, blá. Envolvi-me com um homem que é absolutamente delicioso!

- Qual é o signo dele? - Perguntou ela.

- Virgem. - Respondi eu.

- Óptimo. São muito meiguinhos e dedicados. Eu preciso de encontrar um caranguejo, são do melhor! - Observou ela.

- Pois... não conheço nenhum para te apresentar! Lamento! - Disse eu. - Mas, continuando... de facto, ele é... meiguinho, dedicado (por enquanto!) e delicioso! Nunca pensei encontrar um homem assim! Mas é bastante mais novo do que eu, isso deixa-me insegura. Mas o problema é o meu amigo, o Y, sabes, não desiste de mim, liga-me vezes sem conta, manda-me mensagens... e eu... ainda lhe dei algumas esperanças mas praticamente desprezei-o! Hoje ando para aqui feliz, a viver um sonho e ele, anda a sofrer! O que hei-de fazer com ele? Preciso de ter uma conversa com ele e não sei como não o magoar. O que lhe direi para conseguir manter a amizade, dizes-me?

- O teu amigo sempre é mais velho que o outro o que te dará uma certa estabilidade, tem um óptimo emprego, é culto, está bem na vida, é giro, pretende uma relação séria, em suma: é o teu ideal de homem! - Respondeu ela.

- Isso não me interessa! - Interpelei.

- Cala-te. Não sejas idiota! É o ideal de homem de qualquer mulher. - Argumentou ela. - O outro é um flirt, é bom para dar umas quecas e ir passando uns bons momentos. Por isso, aconselho-te a andares com os dois. Um não precisa de saber do outro. E assim serás bem mais feliz. Logo vês no que vai dar. Vale mais dois pássaros na mão do que dois a voar!

- Eu não sou assim. Pedi o teu conselho porque preciso de ter uma conversa com o meu amigo sem o magoar. Mas estou a adorar isto que estou a viver com este homem. Eu não preciso de um homem culto, com um bom emprego e giro. Eu só preciso de ser feliz e de proporcionar felicidade. Só isso! Agora ando com este homem que é amoroso e que confia em mim. Estou encantada e deslumbrada com ele. E não amo o meu amigo. - Disse.

- Não sejas idiota! Eles são assim! Eles são todos assim, porque hás-de ou haveremos de ser diferentes? - Se não der com este, ficas com o outro. É assim tão dificil!? Que idiota! Que parva! - Disse-me ela. - No mínimo dizes ao teu amigo que estás confusa, que precisas de um tempo para te encontrares e salvaguardas-te.

Depois disto, com muita tristeza, sou obrigada a concluir que as mulheres não são melhores que os homens! Que vivemos tempos em que o amor também está falido! Já não há principios! Já ninguém se interessa pelo amor desinteressado e avassalador. Nenhum romeu se matará por nós e nenhuma julieta morrerá por vós! De facto, devo ser uma idiota! A única coisa que me interessa é amar, ser amada e ser feliz, não ser magoada e não magoar. Ando muito feliz, mas assombra-me a infelicidade das pessoas de quem gosto. Como poderia traír as pessoas que quem gosto? Até onde podem ir os interesses humanos?! Acho que já não confio em ninguém! Que não há esperança! Estas merdas tiram-me a crença! Perco a fé no ser humano!

O puto está a gritar que quer o pc e eu tenho de ir!

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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

CONTRASTES













O dia amanheceu assim na minha janela. Agora anoiteceu, com a lua cheia, assim, na minha janela.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

COISAS PARVAS


Ontem à noite disse ao meu filho:
- Vou sair. Não sei a que horas chego. Não esperes por mim. E não te deites tarde, no máximo à meia noite.
E ele retorquiu:
- Vais saír? Mas o que é isto? Agora é todas as noites?! Já estás a abusar!
Eu fiquei a olhar para ele, sem saber o que dizer, à procura de uma desculpa.
- O que é isto, pergunto eu? Tu és meu filho, não és meu pai! Vá... tem juízo! Eu não me demoro. - Respondi comprometida.
Entrei em casa já passava das três horas da matina. Descalcei-me à porta, rodei a chave e entrei devagarinho, pé-ante-pé, com as sandálias na mão e a fazer chuiiiuuu ao cão que saltava para cima de mim. Perante o estardaçal do cão, dei por mim a agarrá-lo com força e dizer-lhe ao ouvido: - Por amor de Deus! Não me estragues a vida! Ele não pode saber a que horas entrei em casa! Senão estou tramada!
De repente parei e interroguei-me: - Estou com medo de ficar de castigo?! Que grande idiota!
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Pure - Blackbird Blackbird

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

OS HOMENS!!!


Ontem tive uma tarde péssima! Queria trabalhar, mas o telefone estava sempre a tocar, ora chamadas, ora mensagens! Para além disso, tive sempre ao pé de mim uma amiga (não eramos muito íntimas, mas a conjuctura actual - emocionalmente falando - aproximou-nos), que estava numa ansiedade de cortar ao cutelo! A juntar a isso, atendi uma cliente que, inesperadamente, desatou a chorar! Gaita! (Já quase não digo asneiras! Confesso que houve um comentário anónimo que me tocou profundamente, me envergonhou e deu-me aquela força necessária para ganhar maneiras!).

Já quase tinha deixado de fumar, até ontem à tarde que, num ápice, limpei quase um maço de tabaco! Sou influenciável! Quem não o é? Se passo muito tempo com alguém que não fuma, evito perturbar essa pessoa com a minha fumaceira - é uma questão de respeito e só tenho a ganhar com isso. Se passo muito tempo com alguém ansioso, acabo a banhar-me em ansiedade!

Mas voltando à minha amiga, é uma rapariga (bem, é uma mulher que já passou dos quarenta) que se apaixonou recentemente. Melhor dizendo, reapaixonou-se por um antigo namorado, daqueles da adolescencia! E é tudo tão deslumbrante no auge da paixão! Ele é "meu doce, minha fofinha, coisa linda, maravilhosa, meu sonho, minha querida, meu amor...!!! É tudo muito profundo, muito açucaradado! Eu poderia dizer que chega a ser enjoativo, o que não é verdade, pois bem sabemos como é ridiculamente delicioso todo esse favo de mel! Que tão bem faz à nossa alma, sempre faminta de afecto. Continuando...

A minha amiga perdeu o apetite e uns bons quilos que tinha a mais, perdeu o sono e até largou o juízo num canto qualquer de que já não tem memória. Como o rapaz está no estranjeiro, ela não perdeu tempo e comprou uma passagem de avião para ir ter com ele. Foi então que o rapaz logo cessou com a ternurice, acabou com as mensagens, os emails e os telefonemas. Em face do silêncio do apaixonado, ela ficou insegura, com os nervos em frangalhos, vómitos, dores nas costas e nos braços e crises de pánico. E eu a tentar acalmá-la, dentro dos poucos meios de que dispunha.

Como se não bastasse, a cliente que está a meio de um processo de divórcio começou a contar-me que o primeiro marido lhe batia todos os dias e este, o segundo, foi um desprezo total, nem um beijo na boca lhe dava! E, do seu rosto triste, rolaram as lágrimas. Ao mesmo tempo que o meu telemóvel apitava, apitava, como que a querer dizer-me:"Tola! Ingrata! Ingrata!"

Os homens são todos iguais! Sou obrigada a concluir que todos frequentam a mesma escola, agem da mesma forma e sentem da mesma maneira! Custa-me dizer isto! Eu até gostava de não ter de o dizer, até gostava de pensar outra coisa, pois seria muito mais feliz se pudesse ter esperanças de um dia encontrar um homem diferente. Mas as provas que tenho e a fase de inquérito já tem uns longos anos, são precisamente estas! Os homens são uns sacanas! Os homens não são de confiança! São seres estranhos com comportamentos inexplicáveis e incompreensiveis! É certo que há muitos homens deliciosos e até maravilhosos, desde que não queiramos nada deles nem aprofundemos o conhecimento da sua mente obscura. Por isso, a melhor e se calhar a única maneira de nos relacionarmos com um homem seja a do de vez em quando, trocarmos conversas e bactérias, promessas vãs e ridicularias, vinho e um queijo da serra.

Estarei a ser injusta, - e também gostaria de acreditar nisso - com algum ser que nunca terei tido o privilégio de conhecer e que possívelmente nunca conhecerei. E, como se o acaso gozasse comigo, acaba de me ligar um homem maravilhoso a dizer que tem saudades minhas e que hoje me vem visitar com o seu sorriso encantador! Como se o acaso quisesse ou pudesse contrariar esta tese que ontem, depois de umas quantas horas de stres, acabei por elaborar no meu (sub)consciente. É que, à cautela e por dever de consciência, nada espero. Sendo certo que me entrego e recebo sem reservas o que de melhor puder. Porque assim fomos feitos ou criados e, inevitavelmente, sonhamos, uns com os outros, uns mais que os outros, uns e os outros. Todos precisamos de amor mas, creio, os homens não sabem como usá-lo e o amor não se faz acompanhar de livro de instruções!
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Estará uma lua cheia lindíssima esta noite!

PENSAMENTOS DISPERSOS


"És maravilhoso!" -Disse-lhe eu. E ele disse que não o é. Que nunca lhe tinham dito isso. Que são os meus olhos que o veêm assim, apenas os meus olhos. Disse também que quando está comigo se sente maravilhoso e que talvez acabe a agir como tal e, por via disso, eu é que sou maravilhosa. Isto pos-me a pensar! Pos-me a pensar numa coisa que se chama reciprocidade. Quando uma pessoa nos faz sentir bem, nos transmite alegria e bem-estar, nós emanamos uma luz na direcção dessa pessoa fazendo-a sentir-se bem, transmitindo-lhe alegria e bem-estar. Gera-se uma envolvência positiva que leva a que cada um se ofereça ao outro no seu melhor, com espontaneidade, sem o receio de ser julgado e criticado, sem artifícios ou máscaras, inteiramente natural, porque nada espera do outro e outro nada espera de si, senão a mais singela das felicidades que o presente momento lhes possa proporcionar. É isso que é maravilhoso! E é isso que raramente acontece!

Tenho a consciência, porém, de que o maravilhoso é, simultaneamente, efêmero. Pois quando a maravilhosidade de um começar a sucumbir, a maravilhosidade do outro tenderá a esmorecer. Como o pavio das velas que se acendem ao mesmo tempo e que a pouco e pouco vão perdendo a chama. E quando uma se apagar, a outra já estará finada!

Ainda assim, é importante que as pessoas saibam que a reciprocidade tem um peso enorme nas relações. A tristeza e o pessimismo tendem a gerar sentimentos negativos naqueles que convivem criando um ambiente pesado entre si. Quando duas almas apertam as mãos fortemente ou vão ao fundo juntas ou ambas voam, aparte aquelas que pouco ou nada fazem, apenas se deixam caminhar pela vida, num suave aperto e livres de emoções.

Nunca soube o que é ter a alma livre de emoções!
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Veronica - Nicholas Gunty

terça-feira, 21 de setembro de 2010

TENHO MEDO QUE O CÉU ME CAIA NA CABEÇA!


Sinto-me péssima! Céus! Por Zeus! O que é que se passa comigo hoje?! Estou para aqui à espera... do quê? de uma fantasia? De uma ilusão? Provavelmente! O que espero? É um sonho? Não. É uma realidade. Será? Não sei. Mas o que importa?!
Sinto-me péssima! O céu vai-me cair na cabeça! E é merecido! Não tenho juízo! Não penso ou não quero pensar! Pensei demasiados anos e, de repente, criei uma leveza de vida que poderá ser insustentável!
Esta tarde, o meu amigo ligou-me várias vezes. Em estado de desespero! Creio que a gata tem saudades de me morder, as tanjerineiras podem estar a secar, a lua já não lhe poisa no telhado e ele... ele está magoado! Ele está a sofrer! E eu sou uma idiota! Sou a maior idiota da margem sul e arredores!
Sinto-me péssima! O céu está a baixar e não tenho pilares resistentes que o segurem! O meu amigo está sempre a ligar-me! Ele ama-me! Há demasiado tempo! Ele é aquilo que esperei encontrar nos últimos anos! Sucede que, antes de o encontrar comecei a sonhar. E não era ele a personagem! E o sonho entranhou-se-me no coração! Como aquelas nódoas que nenhum produto tira! Por enquanto... digo eu! Sim, que há-de limpar-se... quanto mais não seja, quando outra nódoa cair sobre aquela, digo - sonho. Sem ofensa! Por Zeus! Sem ofensa! Que o meu sonho ainda é o meu ideal! Mas, antes que o céu me caia mesmo na cabeça, devo dizer que, foi um filme! Um filme que vi uma vez, adorei e não voltará a passar no meu cinema, no ecrâ da minha televisão, no meu video. No rec. Ponto final!
Ainda ontem tinha um sorriso plantado no rosto! Pois tinha! Mas, de repente, pus-me a bordar fronhas para deitar a cabeça e sonhar! E, esta tarde, o meu telefone pos-se a reclamar realidades! E então o peito começou a doer-me! Sou uma idiota! A maior idiota da margem sul e arredores! E o rapaz tem o sorriso mais encantador que já conheci! Aquele sorriso parece ter ganho raízes no meu cérebro! Mas, esta dor no peito, hoje, acabará por fazer caír chuva nas minhas pestanas! Não sei o que se passa comigo hoje! Sinto que o céu me vai caír na cabeça! Deixei queimar o jantar e o puto está a gritar que quer o pc!
Tenho de ir!

A CONVERSAR


Esta manhã uma cliente falou comigo durante cerca de duas horas. Até que tive de, delicadamente, a mandar embora porquanto tinha diversas coisas urgentes para despachar. Ela pediu desculpas por falar tanto e disse-me que é um prazer enorme conversar comigo. Vários clientes me dizem isso e eu fico muito vaidosa, fico cheia de orgulho mas finjo modéstia.

Na verdade, as pessoas têm um défice bastante elevado de diálogo e de convivío. Na verdade, as pessoas não conversam, vão falando. Na verdade, as pessoas vão vivendo umas com as outras no meio de gritos ou de silêncios. Na verdade, as pessoas passam umas pelas outras, trocam os passos e trivialidades. Na verdade, as pessoas caminham pela vida de uma forma individualista e solitária. Na verdade somos assim!

Não gosto muito de falar, por isso não falo muito. Mas gosto muito de conversar, por isso sou conversadora. Conversar é um prazer enorme, de facto. A troca de ideias, de pontos de vista, de vivências e experiências, de ideais e emoções, de expectativas e sentimentos, de conhecimentos e aprendizagens. O acto de falar é, por vezes aborrecido e desgastante. Mas falar também faz falta. E falar com um vizinho ou com o empregado que nos atende do outro lado do balcão, com a colega com quem nos cruzamos, com a amiga que nos liga ou o passageiro que se senta ao nosso lado no combóio, é, muitas vezes, a única forma de sairmos da nossa cela solitária.

As pessoas estão cada vez mais solitárias. Os espaços entre elas vão-se tornando cada vez mais largos, até mesmo entre aquelas que partilham a mesma casa. As pessoas falam muito com a televisão e ainda falam mais com o computador.

Penso que é, sobretudo, o diálogo que prende as pessoas. A conversação é o melhor veículo de conquista. E melhor ainda se for acompanhado com um petisco e um bom vinho. Eu gosto de conversar!
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Where we are - The Dirty Tees (Remistura de Cosmonaut Grechko )

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

SINTO-ME ESTRANHA!


Ando estranha e sinto que posso estar a ficar doente! Se já conseguiram por-me a ouvir merengadas e kizombas sem reclamar, é bem possível que nos próximos tempos me encontrem num concerto do Tony Carreira!
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Night & Day - Chief

A VIDA


O rapaz do sorriso encantador partiu agora para norte, com a promessa de voltar na terça-feira à noite. O rapaz do sorriso encantador passou a fazer parte dos meus dias. Até nas segundas e terças-feiras em que está distante. Agora eu também tenho um sorriso sempre presente no rosto. Não sei se é um sorriso encantador. Mas o meu filho ontem deu-me beijos e hoje voltou a dar-me beijos, sem que eu lhos solicitasse! Perguntei-lhe a razão e ele disse-me: "Tem de ser mãe, e até te dou mais se quiseres. É que tu andas tão querida! Tão amorosa! Penso que estás apaixonada!" Eu nem soube o que dizer! Ri-me. Eu não sei se estou apaixonada! O que eu sei é que tenho vivido dias maravilhosos. Desde que conheci o rapaz do sorriso encantador nunca mais nos separamos e eu nunca mais parei de sorrir! Penso que ele tem um sorriso contagiante. Estou a viver um dia de cada vez, intensamente.

Deixo um poema de Dietrich Bonhoeffer
A VIDA

A vida é uma oportunidade, aproveite-a
A vida é beleza, admire-a
A vida é felicidade, deguste-a
A vida é um sonho, torne-o realidade
A vida é um desafio, enfrente-o
A vida é um dever, cumpra-o
A vida é um jogo, jogue-o
A vida é preciosa, cuide dela
A vida é uma riqueza, conserve-a
A vida é amor, goze-o
A vida é um mistério, descubra-o
A vida é promessa, cumpra-a
A vida é tristeza, supere-a
A vida é um hino, cante-o
A vida é uma luta, aceite-a
A vida é aventura, arrisque-a
A vida é alegria, mereça-a
A vida é vida, defenda-a.

sábado, 18 de setembro de 2010

E,TERNA


Trago o céu na boca
e a flor na pele.

Queria fazer-lhe um poema
mas ele é o poema.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A CONTAR HISTÓRIAS

Durante muito tempo ela sonhou com um rapaz da Serra da Estrela. Muitas vezes pediu a Deus que lho enviasse. Deus andou pela Serra da Estrela e à volta dela, à procura do rapaz. Ela não sabe, nem entende porquê, mas Deus enganou-se! Enviou-lhe um rapaz que encontrou por lá, mas que não era o rapaz dos seus sonhos. Para remediar a situação, Deus deu ao rapaz enviado muitas das caracteristicas idealizadas pela rapariga.
Com um sorriso ofegante e promissor, esta noite o rapaz disse à rapariga : Cheguei. Vim mais cedo, a toda a velocidade, para poder estar contigo. Receei não te encontrar!
Ela pestanejou e do seu olhar rairam luzes: Estou feliz por teres chegado, assim tão inesperadamente! Receei que te perdesses no caminho!
Desceram, em vertigem silenciosa, de mãos entrelaçadas, pela areia abaixo e quedaram-se rente ao mar que sussurrava no escuro. Nublado o céu, apenas uma estrela grande e brilhante. É Marte. Disse-lhe ela. está sempre presente, maior que as outras, até quando as outras se escondem. Digo-te que é Marte porque o sei. Acredito, se tu o dizes. Disse ele num fio de voz. E eu digo-te que aquelas luzes lá ao longe são o Palácio da Pena. Sei-o porque o conheço bem. E se olharmos um pouco mais para baixo está lá a minha casa, ali, vês? A casa dele e Marte foram instantes próximos, quase vizinhos, no jardim de um palácio.
Os dois deixaram-se escorregar num abraço forte, os corações a bateram em uníssono. Dissipados os receios, afagaram as almas mutuamente, perto do pirilampo de um pescador nocturno que lhes acenava com gratidão pela companhia.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

MOMENTOS ESPECIAIS


Ele disse-me:
- Aprendi que não encontramos a felicidade nas expectativas que criamos para a nossa vida, mas sim nas coisas que nos acontecem e que podemos viver. E há coisas que nos acontecem e que sentimos que não é por acaso que nos acontecem e é imperativo que as vivamos. Nisto consiste a felicidade. Durante muito tempo fui guardando coisas para usar ou consumir em determinados dias. O certo é que nunca as usei ou consumi porque os dias esperados nunca aconteceram ou aconteceram de forma diversa das minhas expectativas. Percebi que podia estar a fazer da minha casa um museu de coisas boas desperdiçadas e da minha vida uma estação de esperas. Aprendi a não planear a longo prazo. Que os momentos maravilhosos que a vida nos oferece, ainda que possam ser breves, são a única felicidade palpável. Hoje estou feliz por me ter cruzado contigo e por poder estar aqui contigo. Por isso, hoje não queria estar em mais lugar nenhum, senão aqui contigo.
Retirou uma peça do seu museu e partilhou-a comigo.
Há pequenos momentos em que nós pessoas nos tornamos grandes!

domingo, 12 de setembro de 2010

COISAS QUE ACONTECEM


Conforme prometido, na quarta-feira, o rapaz do sorriso encantador ligou-me. Disse que estava de férias. Fomos tomar um café nesse mesmo dia. No dia a seguir voltou a ligar-me. Fomos beber um copo ao bar da minha amiga. No dia seguinte ligou-me várias vezes e fomos jantar. Nunca mais nos largamos! O rapaz do sorriso encantador é um homem deslumbrante. Agora mesmo ele partiu para o norte e só volta na terça à noite. Perguntou se me pode ligar na quarta-feira. É possível que ele nem se lembre de ligar. É possível que isto tenha sido um sonho, do qual nem apetece acordar. Cada minuto valeu três dias, uma vida! Nunca pensei que isto me acontecesse! Há sonhos maravilhosos, não há!?
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Fresh feeling - Eels

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

BIG ECHO - THE MORNING BENDERS / OUTROS...

Tthe Morning Benders - Big Echo (2010)

Soap&Skin - Lovetune for vacuum (2009)
(Lindíssimo)

Circulatory Sistem - Signal Morning (2009)

 
jj - jj nº 3 (2010)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

ESTOU TRISTE!


A felicidade é como a chuva: cai por uns dias, mas depois seca!
O primeiro dia de trabalho a sério e o primeiro dia de depressão pré-menstrual juntos, são como uma guerra civil!
Quando cheguei ao escritório deparei com a minha colega muito mais magra. Ria que nem uma doida, como se estivesse maluquinha e disse-me que se ia divorciar. Não pode ser! Exclamei. Sentei-me. Eu que ainda acredito em relações profundas e duradouras, que duas pessoas podem construir juntas as paredes sólidas de uma vida! Naquele instante mataram-me a crença. Apeteceu-me chorar. Carpideira! A chorar os sonhos mortos dos outros. Quem te paga idiota?
"Estou tolamente apaixonada! Vou, finalmente fazer alguma coisa por mim" Disse-me ela! Tu também!? Pensei. Anda tudo louco!!
Chegou o cliente e perguntou-me se se passava alguma coisa comigo! Estava estranha!
Nada, não é nada, somente cansaço. E o coração desafinado a cantar, a chiar, a chiar, como se fosse lamento! É saudade, saudade, saudade - diz-me o filha da mãe! Incapaz de sobreviver sozinho! Deu-lhe para voltar ao lugar do costume. Moleiro! Sempre a moer sonhos, sem moínho! Não vais a lado nenhum! Digo-te eu.
Já não mando! Caí do trono, desamparada! Prometi a um leão dividir um reino e faltou-me a coragem. Cobarde! Que falta de linhagem! A descontruir! Angulos imperfeitos de memórias revisitadas.
Ninguém sabe qual a forma dos meus sonhos. Nem a digo. Já não importa. Já não sei. Dou comigo a pensar pedaços de coisas tristes. Limito-me a sentir. Uma espécie de falta e de dor. Disfarço. Em ultima instância ponho a máscara.
Hoje estou triste. - Digo-te ao ouvido - Confesso, que me fazes falta.
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Lush life - Joe Mooney

COISAS PARVAS

Foto: Pôr-do-sol transmontano
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A minha amiga diz que nada acontece por acaso e acredita que não há cíncidências. Na verdade a vida é um jogo de acasos onde as coincidências estão sempre a acontecer.
O recinto da festa do avante é enorme e há milhares de pessoas aqui e ali e de um lado para o outro. Existem vários palcos onde actuam os grupos mais conhecidos e cada barraca ou restaurante representativo de uma região tem o seu próprio palco onde, ao longo da noite vão actuando grupos, a maioria deles são populares e bem divertidos. E há sempre um pézinho de dança. A probabilidade de nos cruzarmos com uma pessoa mais do que uma vez é muitissimo reduzida. E é interessante andar a saltitar, pela diversidade de costumes e música.
Na noite de sexta-feira, enquanto eu abanava o corpo ao som de música escocesa, tocada por um grupo de malta no meio de um relavado, notei um rapaz que me olhava fixamente com um sorriso encantador. Mas ali, isso é o prato do dia. O certo é que, por acaso acabei por me cruzar com o mesmo rapaz várias vezes em locais diferentes. E lá estava o mesmo sorriso encantador!
Na noite de sábado, já nem me lembrava do rapaz e do seu sorriso encantador, quando, subitamente esbarrei com os seus dentes branquissimos, brilho pepsodente, entre uns lábios bonitos e rasgados de orelha a orelha. "Perdão" disse eu. Foi sem querer, fui empurrada por meia dúzia de pessoas e pelo destino - pensei. Ele ajeitou os óculos e seguiu por entre a multidão de pescoço voltado para trás, até desaparecer. E não mais tive o privilégio de ver aquele sorriso cintilante, do qual, diga-se, acabei por me esquecer.
O domingo é sempre o dia menos interessante, a noite acaba às 24H00 e depois é o dispersar. Além de que os grupos populares já são poucos e as alternativas são em menor número. Todavia, continua a ser um mar de gente. Já eram umas 23H00, quando passou por mim o rapaz do sorriso encantador. Trocamos um olá apressado e ele foi levado por uma quantidade de pessoas que passavam aos empurrões. Ainda vi a mão dele no ar a acenar-me, mas depois desapareceu. Acabou por voltar uns minutos a seguir. Perguntou se podia falar comigo. Sentamo-nos numa mesa enquanto os meus amigos permaneciam no balcão da tasca, a beberem um copo com os olhos cravados em nós. Depois da formal apresentação disse-me:
- Estava farto de andar às voltas na expectiva de te voltar a encontrar. Já tinha perdido a esperança! É que estou mesmo a ir-me embora, ainda tenho de ir hoje para o Norte. - Blá, blá, blá, isto e aquilo, daqui e dali - Vivo em Lisboa mas trabalho em Castelo Branco às segundas e terças-feiras, para onde sigo agora.
- Ah! Boa terra, boa terra! - Foi o que me ocorreu dizer!
- Mas venho a casa todas as quartas-feiras e também passo cá os fins-de-semana. Posso ligar-te na quarta-feira? - Continuou.
Quando voltei para junto dos outros o meu amigo comentou:
- Eu não acredito que lhe deste o número de telefone!
- Dei. A vida são três dias e hoje pode ser o último deles. Sou livre, disponível e já não tenho nada a perder. Aquele sorriso encantou-me!
- O homem estava babado! Havias de ver o cenário daqui! - Comentou a minha amiga. - Estava!... Que dentes! E que sorriso!
- Que parva! Não percebeste que ele só quer uma coisa: comer-te. Via-se na cara! Além disso é capaz de ser um bocado mais novo do que tu. - Disse o meu amigo.
- Que parvo! Que imbecil que tu me saíste! Olha que tu também és um bocado mais novo do que eu e isso não te incomoda, pois há muito que sonhas comer-me. - Respondi. - O ciúme é uma coisa feia!
- Ao menos a mim já me conheces! - Disse ele num suspiro.
- Pois já! Por isso mesmo! Aquilo que não se conhece ainda se pode sonhar, por isso é sempre mais apetecível. - Conclui. - Possívelmente ele vai-se esquecer de telefonar. Mas como diz a minha amiga (a outra), estas coisas fazem-nos muito bem ao ego! Além de que as coíncidências, por vezes, fascinam-me!
Nisto tocou o meu telefone.
- O filha da mãe não perde tempo! - Pigarreou o meu amigo.

domingo, 5 de setembro de 2010

A FESTA CONTINUA

Foto: Pôr-do-sol transmontano
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Os putos ainda dormem. Devem ter vindo para casa já de madrugada. São fascinantes! Estão a viver dias de liberdade e prazer, o que para eles é a felicidade pura. Daqui a pouco ouço o meu filho gritar "Mãe, temos fome, o que é o almoço?" Depois vêm todos desgrenhados, cada qual com os cabelos mais compridos do que o outro, sentam-se á mesa, comem como lobos e dizem centenas de disparates. Eu sento-me com eles e aproveito para ser adolescente por duas horas. Ontem percebi que três deles têm gostos musicais muito semelhantes aos meus. Aproveitei para trocar ideias e pu-los a ouvir Black Keys, Arcade Fire e Ra Ra Riot, que eles não conheciam. Quando pus o "Too afraid to love you" dos Black Keys", um deles mandou calar toda a gente e apaixonou-se de imediato. Acabei a gravar-lhe o cd.

Para mim também estão a ser dias maravilhosos. Comecei com a festa das vindimas em Palmela na noite de quinta-feira. Tenho uma dor de pés que parece que fui a Fátima a pé! A festa do Avante tem sido uma maluqueira! Este ano, melhor do que nunca, tenho andado pelas tascas e palcos do Alentejo, Vila real e Braga, bem como o dos DJ's, alternando com o café Concerto e o auditório do Jazz (das 18H00 às 3H30). Doer, doer, vai ser amanhã, o regresso ao trabalho, no duro! E o regresso a casa, para ficar e por tudo em ordem. Vou aproveitar o último dia e noite da festa mais anti-comunista do país.
...

Aqui fica um poema de que gosto muito:

CANÇÃO DA MAIS ALTA TORRE

Que venha, que venha
O tempo da apanha.

Eu esperei tanto
Que tudo esqueci.
As raivas, o pranto
Acabam-se aqui.
E uma sede langue
Escurece-me o sangue.

Que venha, que venha
O tempo da apanha.

Como o descampado
De flores de abandono
Coberto, deixado
Ao incenso e ao sono,
Para voos atrozes
De moscas ferozes.

Que venha, que venha
O tempo da apanha.

Arthur Rimbaud em Uma Época No Inferno

sábado, 4 de setembro de 2010

PORQUE OLHAS O CÉU?


Vim a casa preparar comida para os putos, eles destrinçam tudo o que encontram mas, por incrível que pareça, puseram as coisas mais ou menos em ordem! Que alívio!

O meu amigo vive numa pequena quinta junto à serra da arrábida. Tem árvores de fruto, galinhas, cães e gatos. Tem duas pessoas que, pela manhã lhe cuidam do pomar, da horta e dos animais e, à noite, tem a lua sobre o telhado.
O acesso à quinta é um caminho de terra. Eram quatro horas da madrugada quando chegamos a casa. A noite ali é imensa. Não há carros a passar, nem pessoas, apenas o barulho dos cães e dos grilos, e o cântico histérico de um galo que gosta de se fazer ouvir. Ele agarrou em duas cadeiras que colocou debaixo de uma tangerineira. Sentamo-nos de frente para a lua. O gelo tilintava nos copos e os cigarros ardiam nos dedos.
- Gostas tanto de olhar o céu, este é o céu que te ofereço hoje. - Disse-me ele.
Por momentos fiquei sem palavras. Não é fácil descrever a beleza de um momento.
- Que procuras tu no céu se o que te pode fazer feliz está na terra? - Perguntou.
Antes que eu pudesse responder, a gata subiu-me para o colo e, de um momento para o outro mordeu-me a mão e arranhou-me um braço. Aquela gata nunca gostou de mim!
...

Deixo uns poemas cuja autoria desconheço:

O ladrão
deixou-me
a lua na janela.

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A sombra (fado)

se a noite escura demora
cativa dentro do peito

pressinto quando me deito
a voz de alguém
que hoje não vem
e mora em mim a toda a hora
falando grave e escondida
por entre as coisas reais
suspende a força da vida
e não é ninguém: ah, não é ninguém
somente sombra e nada mais
porém a voz que se ouvia
morre com a noite no cais
e o sol agora me alumia.
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Dreaming of you - The Coral

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A VIDA SÃO TRÊS DIAS.


Vou andar por aqui estes dias.

Acamparam cinco adolescentes na minha casa. Eu acampei na casa de um amigo. Vim fazer-lhes o farnel e deparei com a cozinha em puro estado de apocalipse. Receio que quando voltar para casa na segunda feira, só encontre escombros!

Vale a pena. A vida são três dias!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

DESABAFOS


Não sei se é o coração se á a alma que nos lixa a vida.
O coração, nunca tive ordem nele e a alma, nunca fui capaz de a segurar! Ambos me largaram na estrada. Puseram-me a dançar a seu belo prazer. Fizeram-me matéria prima escravizada pelas ilusões, objecto decorativo no muro de um caminho, grafiti acidental de uma qualquer estação de autocarro.
Estou a aprender a separar-nos, aos três. Então a questão é esta: Hoje, ao final do dia, serei quem posso ser?

...
Poemas para ler e relaxar, ou não:

Flores no Deserto, Herbert Vianna:

Um dia
Posso até pagar por isso
O impossível é meu mais antigo vício
Ou então
Um delírio do meu coração
Que vê as coisas
Onde as coisas não estão
Tão certo
Como flores no deserto
Real
Como as miragens da paixão
Havia
Inocência em seu sorriso
Enquanto caminhava rente ao precípicio
Estava calmo
Por acreditar em perfeição
Tal qual o tolo da colina na canção.

...
Versos tortos de um hai-kai

I
Perdido na noite quente
Frio teu calor
estrela morta
II

Consolo na Física Quântica
Há vários eus nos multiversos
Acredito que pelo menos um deu certo
III

Não voltaria se pudesse
Mas posso tudo.
Até voltar
IV
Passo; pressa de estar atrasado

para amanhã que sequer raiou
A bola colorida ainda passa de mão em mão
V

Noite, lua clara
Frio, ar puro
Quem para senti-los?

...

Já me sinto melhor!
Vamos lá viver.
Até à próxima dor ou prazer.

VIVER


- Apesar das alternativas que vou arranjando, é contigo que quero ficar. As mulheres dão-me cabo da cabeça, mas tu dás-me cabo do coração! - Disse-lhe ele.
- Admiro-te por tudo. Nunca conheci ninguém tão fiel e persistente a um querer! - Disse-lhe ela. - Os leões são assim!
- Os leões são assim! - Suspirou ele
- Liga-me amanhã. Vamos tomar um café, beber um copo e experimentar a vida. Dois leões juntos podem conquistar a selva. - Decidiu ela. A seguir desligou o telefone, deitou-se e chorou silenciosamente sobre a almofada!
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Fool's gold - Lhasa de Sela

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O AMOR


O AMOR DESCRITO PELAS CRIANÇAS TEM MAIS ENCANTO!

«O amor é quando dizes a um rapaz que gostas da camisa dele e, depois, ele usa-a todos os dias.» - Noelle, 7 anos

«O amor é quando vais comer fora e dás grande parte das tuas batatas fritas a alguém, sem a obrigares a darem-te das dele.» - Chrissy, 6 anos

«O amor é quando uma rapariga põe perfume e um rapaz põe colónia da barba e vão sair e se cheiram um ao outro.» - Karl, 5 anos

«Quando amas alguém, as tuas pestanas andam para cima e para baixo e saem estrelinhas de ti.» - Karen, 7 anos

«O amor é estar sempre a dar beijinhos. E, depois, quando já estás cansado dos beijinhos, ainda queres estar ao pé daquela pessoa e falar com ela. O meu pai e a minha mãe são assim. Eles são um bocado nojentos quando se beijam.» - Emily, 8 anos

«Amor é quando a mamã vê o papá na casa de banho e não acha isso indecente.» - Mark, 6 anos

...

Um rapazinho de quatro anos, cujo vizinho era um velhote que perdera recentemente a sua esposa, depois de ter visto o senhor a chorar, foi ao quintal do velhote, subiu para o seu colo e sentou-se. Quando a mãe perguntou o que dissera ao vizinho, o rapazinho disse: « Nada, só o ajudei a chorar. »