domingo, 23 de janeiro de 2011

INCONTORNÁVEL

Escuta como ranje o desassossego que perpassa por entre as palavras.
O pior que podia ter feito, num dia como o de hoje, era ter visto um filme tão lamechas quanto o "Sabrina". Um domingo frio e indiferente como este, reflecte bem a bruma do pensamento. Desnecessário, pois, o romance novelesco e a lágrima ao canto do olho. Daqui a pouco deito a cabeça sobre a almofada enxovalhada pelo tumulto das últimas noites e começarei a inventar o amor no rodapé de um sonho. É assim que, quase todas as noites, suspendo a vida. Como quem, por devoção, reza ao criador. Um itenerário nocturno pela ilusão! O escavar do túnel, cêntimetro a cêntimetro, noite após noite, para a fuga da realidade. Uma demência frequente, subterrânea, uma justificação plausível para a insónia. Como se não soubesse, definitivamente, que o túnel desemboca numa manhã vazia de ti.

Nenhum comentário: