sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

POR QUEM OS SINOS DOBRAM?


Esta tarde tive uma longa conversa. A conversa de que necessitava para serenar o espirito. Uma pessoa que sempre foi maravilhosa, nunca me tinha decepcionado, de repente, parecia uma pessoa estranha, um intruso! Bastaram as sensações ou intuições ou o que quer que se lhe chame, para sentir isso. O que é que se passava?! As explicações não me satisfaziam, daí a maior desilusão.
- Diz-me a verdade - pedi-lhe.
E ele começou a abrir-se. E disse-me, finalmente:
- Quando estou contigo sinto-me bem, estou feliz. Mas tenho o coração dividido. Há uma pessoa que está cá dentro e não sai. E sinto-me mal, é como se te traísse, e tu não mereces isso. E então sofro! Quanto mais tempo passo contigo pior me sinto, a pensar se é justo para ti. Sinto-me um filho da mãe! Eu gosto de ti, fazes-me feliz, mas não correspondo às tuas expectativas, sempre bem disposta, sempre a sorrir, sempre a dar-me carinho. E eu vou ficando cada vez mais triste, a sentir-me cada vez mais um filho da mãe!
Eu senti-me a tremer ligeiramente, mas disfarcei. Filho da mãe!- Pensei!- Não poderias ser feliz, simplesmente? Por acaso saberás por quem os sinos dobram? Nâo basta ser feliz? Só isso? É preciso o coração? E então pensei que deveria revoltar-me, sei lá, chamar-lhe nomes, ofendê-lo, sei lá! Um Leão não lida bem com estas coisas! O orgulho apunhalado desta maneira, é uma coisa insuportável! Falo a sério. Tremia ligeiramente, embora que de forma controlada.
E agora vou ter de ir à reunião de condomínio! Não estou com espirito para isto, mas tem de ser, é obrigação de qualquer condómino responsável.
Voltei. Encho o copo de vinho. Esta noite é a minha companhia. Não preciso de mais nada. Voltam-me as palavras à memória, como se fosse um eco. Desgraçado! Confessar-me a verdade! Céus! Senti-me quase a desfalecer! Por momentos fiquei sem voz, com as palavras enroladas na garganta! Não era melhor mentir-me? Dizer-me uma treta qualquer igual áquela que me tinha dito há dias atrás? Não seria melhor manter a farsa e até jurar-me a pés juntos que era tudo uma questão de problemas de depressão motivada pelo desânimo no trabalho! Mas ele é um rapaz delicioso e honesto. Perdoa-me. Como posso magoar uma pessoa que só me fez bem? - Disse. Ho céus! O que eu senti naquele momento! Alguém imagina? Foda-se!
- Nunca discutimos! Só me lembro de momentos maravilhosos. É um final feliz! Andei três dias a bater mal, só porque me custava a abdicar da alegria e bem estar que tinha contigo e porque me custava aceitar que, a final, fosses igual a todos os outros, quando te julgava tão diferente!- Disse-lhe. - Sei agora que nunca estive enganada a teu respeito e isso tranquiliza-me. Estou bem, acredita. persegue os teus sonhos. É assim que a vida faz sentido, só assim. Eu também tenho os meus. Quero-te bem.
E assim terminou a nossa conversa. Não tive coragem para lhe dizer que tenho a vida cheia de textos e rascunhos que não lhe dizem respeito. Que sempre tive o coração dividido e que isso me fazia sentir uma filha da mãe! Que os sonhos me perseguem todos os dias e eu não sei como persegui-los, por isso me agarrei a ele.
Um dia destes, talvez me sente a tomar um café com ele e lhe diga por quem os sinos dobram, se tiver coragem.
É sexta-feira. Convidaram-me para saír e eu respondi: - Hoje não. Preciso de me reencontrar com a minha solidão.
Hoje preciso de estar comigo mesma, para tentar compreender a vida e aceitar tudo isto, e tentar aceitar, sem me sentir uma filha da mãe, que os sinos foram dobrando, ainda dobram... por quem?

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