terça-feira, 25 de janeiro de 2011

DESALENTOS


Esta manhã fui fazer uma peritagem, que consiste numa inspecção ao local, neste caso às habitações de cada um dos progenitores, a fim de se aferir das condições de habitabilidade, para efeitos de atribuição da guarda do filho menor. Os peritos seguiam num carro à minha frente e lá ia eu ao volante, com a cliente ao lado.
- Nunca pensei chegar a este ponto! - Disse ela.
- Casei-me com vinte anos e dei cabo da minha vida. Quando já estava recuperada voltei a casar-me aos trinta e oito e, então aí, é que me arruinei por completo!- Continuou, enquanto eu me mantinha em silêncio, a ouvir a música.
- Ainda hoje não entendo por que me casei! Foi uma loucura que fiz! - Concluiu entre suspiros.
- A paixão e amor tem dessas coisas! - Comentei com um encolher de ombros.
- Que paixão?! Nem paixão nem amor! Era uma grande amizade que tinhamos, decidimos casar e deu nisto!
- Mas como é que as pessoas se podem casar sem paixão ou sem amor!?- Perguntei-lhe eu.
- Tinha sido igual. - Respondeu ela. - Ia tudo dar no mesmo, acredite.
- É capaz de ter razão! Faça-me um favor, não diga mais nada até chegarmos lá, a menos que me queira contar anedotas. - Pedi-lhe. - Não me leve a mal, mas para cinzento já basta o dia.
Ela prometeu, mas não, não se calou e eu deixei de a ouvir, perdida entre a música e os pensamentos.
De facto, a que ponto as pessoas chegam! o desentendimento pode ser tão profundo que leva à completa devassa da vida de cada um! Que tristeza, andar a percorrer cada assoalhada para, no fundo, se aferir do bem estar e da felicidade de uma criança!
Porque é que os adultos teimam em não querer perceber que o bem estar e a felicidade é uma coisa interior. Na Guerra que alimentam um contra outro, preocupam-se com conforto, enquanto lhe esbulham a felicidade! Que pais!

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