domingo, 30 de janeiro de 2011

DESABAFOS


Ele ontem ligou-me a pedir desculpa, mais uma vez, por me ter decepcionado tanto. Expliquei-lhe que uma pessoa que muda o comportamento de um dia para o outro, de forma inesperada e radical, é impossível não nos decepcionar. É com espanto e verdadeira decepção que o encaramos. E só queremos perceber porquê, para que possamos aceitar e encerrar o capitulo.

Quando nos conhecemos ele tinha ma euforia comigo, uma alegria contagiante! Dava-me a mão enquanto caminhavamos. No café encostava a cadeira dele à minha para poder ficar a segurar na minha mão. Conduzia com uma mão no volante e a outra na minha. Viamos filmes colados um ao outro e de mão dada. Dormiamos encostados e de mão dada. Mensagem de manhã, telefonema à tarde, mensagem à noite. Ás Quartas-feiras vinha a correr lá de C. B. para poder estar 3H00 comigo. Depois passava o resto da semana em Sintra e à sexta à tarde já tinha o fim-de-semana todo programado para o passarmos juntos. Um dia, ao jantar, disse-me que acredita que nada acontece por acaso e acreditava que não tinha sido por acaso que nos tinhamos conhecido da forma que nos conhecemos. Eu disse-lhe que a vida é cheia de coíncidências espantosas, só isso.

Ontem explicou-me que, por acaso, inesperadamente, encontrou em C.B. uma rapariga por quem, antes de mim, tinha tido uma grande paixão, uma rapariga que nunca tinha esquecido, foram almoçar e ela contou-lhe que a relação dela com o namorado estava a terminar. O coração dele disparou encheu-se de esperança e nada mais voltou a ser o que era. Eis a explicação! Mais me disse que entendeu que não foi por acaso que eles se encontraram, pois acredita que nada acontece por acaso!

Eis, então, uma coisa espantosa! e brilhante para meditar, não fosse o caso de eu estar envolvida no assunto e de me tocar com alguma dor.

Posso entender, porque o sei, o que é um vulcão a despertar súbita e inevitavelmente dentro de nós. O amor adormecido que acorda com um beijo! Posso entender, porque o sei, o quanto isso nos transtorna e afecta o nosso comportamento. Posso entender, porque o sei, que isso possa ter a força brutal de mudar tudo. O que eu não posso, apenas porque não sou capaz, é de entender este "nada acontece por acaso"! E isto desassossega-me o espirito. É que, a pensar assim, agiremos constantemente de forma inconsequente e sempre teremos a justificação. Então que significado tive eu na vida deste homem? Que significado este homem teve na minha vida senão um mero acaso feliz que durou pouco mais de quatro meses? Para acreditarmos numa coisa, necessário é que desenvolvamos uma tese sobre ela, a menos que acreditemos por crença ou por acaso.

Ontem fui jantar a casa de uma amiga que se mudou à pouco tempo aqui para a rua do lado. Curiosamente descobri que ela é muito religiosa. Tinha santos no quarto e confessou-me que desde que se separou do marido vai à missa todos os domingos. Já tinha percebido, mas nunca tinha abordado o assunto. Estivemos sentadas à mesa até às três da manhã, sempre a comer, a beber e a falar compulsimente das nossas frustrações. O ser humano vive cheio de coisas para as quais não encontra explicação. Ela também acredita profundamente que nada acontece por acaso e que temos um destino. Eu preciso de compreender para poder aceitar. Não tenho fé nem crenças. Eu questiono e não acredito naquilo que não responde aos meus porquês. Os porquês subsistem porque, enfim, não me consigo libertar do pensamento inquisitivo. São poucas as coisas em que acredito sem que tenha uma explicação para elas. Mas sei que não há necessidade de que algumas coisas se expliquem, o amor, por exemplo, não se explica, sente-se e sabe-se lá porquê! Conformo-me com isso. Se o amor se explicasse não se chamaria amor. E no amor, eu continuo a acreditar apesar de todas estas experiências que me vão moldando.

O texto já vai longo e a manhã chegada ao termo.

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